quinta-feira, 8 de abril de 2010

O sacrifício de Isaque e Kierkegaard

Apreciei muito a mensagem do Paulo Nogueira lembrando a recepção de Gn 22 por Saramago e as abordagens da literatura bíblica por Moacyr Scliar.

Concordo plenamente que é necessário espanar a seriedade sombria que nos cerca na interpretação bíblica. Não que os textos bíblicos não sejam sérios. Eles o são. Mas essa seriedade, como comentou o Júlio em sua mensagem, precisa ser revestida de outro elemento igualmente sério: o humor. Nesse sentido, a pesquisa bíblica já reconheceu a algumas décadas o papel de importância da ironia nos textos bíblicos.

Já se disse que em uma piada há muita coisa séria. Concordo. Talvez as coisas mais sérias que dizemos o sejam em tom de brincadeira, de piada. Mas eu quero, continuando a dialogar com a recepção de Gn 22 proposta pelo Paulo, lembrar o livro de Kierkegaard: "Temor e tremor". (pode ser encontrado em: http://www.scribd.com/doc/7607080/Kierkegaard-Diario-de-Um-Sedutor-Temor-e-Tremor-O-Desespero-Humano).

Nesse livro o filósofo apresenta quatro versões alternativas ao texto bíblico. Todas com finais diferentes. Todas apresentando, ao final, o desmame de Isaque pela mãe. Achei instigante. Vale a pena ler. Na sequência Kierkegaard apresenta uma profunda discussão sobre a fé de Abraão. Apenas uma frase: "Não sucedia assim antigamente; era então a fé um compromisso aceite para a vida inteira; porque, pensava-se, a aptidão para crer não se adquire em poucos dias, ou escassas semanas. Quando, depois de ter combatido em luta leal e conservado a fé, o velho lutador experimentado chegava ao acaso da vida, o coração mantinha suficiente juventude para não esquecer o tremor e a angústia que o tinham disciplinado enquanto jovem e que o homem maduro havia dominado, porque daqueles ninguém se livra
inteiramente a menos que consiga ir mais longe desde muito cedo".

Acho que essa citação propõe questões para serem desenvolvidas.

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