terça-feira, 23 de novembro de 2010

Estruturas e Insucesso Eclesial

O post do Leonel me deu uma deixa para entrar na discussão. Ele afirmou a importância da estrutura familar não-nuclear para o desenvolvimento do cristianismo primitivo, e a ausência de estrutura similar em nossos dias, que seria reponsável pelo insucesso do cristianismo. Não vou discutir com o que o Leonel nos apresentou. Darei um passo a mais na conversa.

Por que igrejas têm fracassado tão redondamente na vivência concreta do Evangelho especialmente nesta primeira década do século XXI? Porque suas estruturas institucionais são cópias descaradas das estruturas excludentes do sistema capitalista. As igrejas se tornaram em postos de arrecadação de fundos - fac-símiles de agências bancárias. Não para a benemerência, mas para a acumulação. Não para a partilha, mas para o lucro. Não para a missão, mas para legitimar a omissão. Os templos não são lugares de comunhão, mas de ajuntamento de invidíduos isolados em si mesmos - todos com os olhos voltados para o poderoso Messias que dirige a coisa que chamamos de culto.

Porque suas estruturas discursivas são arremedos do Evangelho. A boa-nova é tão misturada com a falsidade de Mamom que não se trata mais da mensagem da vida, e sim da mensagem da morte. Esse "evangelho" culpabiliza as vítimas e glorifica os vitimadores. Reduz a fé a uma espécie de obra meritória ou ao esforço sacrificial de dar seu dinheirinho para receber um dinheirão do papai do céu - afinal, não somos todos filhos do rei? Reduz a santidade à moral pequeno-burguesa de ser honesto, trabalhar duro, não fazer mal ao vizinho, não entrar em conflito com ninguém, especialmente com as impessoais estruturas de morte e seus representantes empresariais e pessoais. Reduz a missão à ilusão de "subir na vida" pelo próprio esforço, com Deus como alavanca e consolo em meio ao árduo trabalho de trilhar os caminhos de Mamom, o grande mágico que faz do "dinheiro na mão: solução", escondendo de todos que "dinheiro na mão é vendaval" (Paulinho da Viola "Pecado Capital", 1976).

Um comentário:

  1. Agora nas férias, estou lendo os artigos que não li. Excelente observação, professor Júlio.

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