quinta-feira, 20 de maio de 2010

Uma deliciosa brincadeira

Estou abismado com o imenso volume de comentários aos posts sobre Eclesiastes. Nenhum! Zero" Nadinha de nada! Um publicitário provavelmente diria que errei na escolha do texto - "não pegou". Como não sou publicitário, estou imaginando que acertei em cheio! Muita vez o silêncio é mais eloquente do que a fala. Pois é Leonel, não são só as Confissões que se esquecem de Eclesiastes. Os crentes também! Estou nas igrejas evangélicas há 36 anos e quer saber, não me lembro de ter ouvido nenhum sermão sobre Eclesiastes. De pastores no Brasil, só o livro recente do Ed Kivitz trata do Qohelet - e o título do livro é sugestivo: "o livro mais mal-humorado da Bíblia".

Já li alguns trechos do livro do Ed. Estou gostando. Mas não gosto do título. Eu sei que o título tem de atrair compradores. Como alguém vai comprar um livro sobre Eclesiastes sem um grande chamariz? Fala aí Ed, não estou criticando seu texto não!

Jantei com o Ed e alguns outros colegas em João Pessoa um dia destes. Por coincidência providente, eu estava lecionando lá e o Ed passou por lá para lançar o livro. Ganhei um exemplar e confessei ao Ed que eu estou escrevendo também um livro sobre Eclesiastes. "Escrevendo" é otimismo. Estou estudando, não tenho nenhuma palavra escrita, a não ser as que estão aqui no blog, e nem sei se vou usá-las no livro. Mas acho que já tenho o título: "Uma deliciosa brincadeira". Pode até ser que Eclesiastes seja o livro mais mal-humorado da Bíblia. Isto porém não impede que ele também seja uma deliciosa brincadeira.

O Qohelet é um grande brincalhão - brinca de ser rei, mas não passa de um João Ninguém (com todo respeito aos Joões); brinca de ser pessimista, mas é um cara cheio de esperança; brinca de ser mal-humorado, mas é um cara de bem com a vida. O texto do capítulo 7 me sugere isso, além do resto do livro. Um cara que sabe que é justo, sábio, pecador e néscio, tudo ao mesmo tempo, e não se apavora com sua própria burrice e pecaminosidade, nem se exalta com sua sabedoria e justiça, tem de ser alguém de bem com a vida, de bem com Deus.

Mas tenho uma imensa dúvida, cruel e agonizante dúvida: será que ele seria um cara de bem com nosso Protestantismo?

Eclesiastes 7.13-20 e a sabedoria (popular?)

Como anotei na mensagem anterior, o Eclesiastes é um livro pouquíssimo lido na igreja. E quando lido, o é, em geral, via uma linha hermenêutica que afirma que seu autor constrói um narrador que representa o homem sem Deus para demonstrar aos leitores como é trágica a vida de tal homem. Portanto, o narrador seria uma ficcionalização invertida do escritor histórico.

Sinceramente, essa abordagem não me convence.

Acho que o livro apresenta a crise humana, vivida em intensidade pouco ou nunca vista na literatura bíblica. Seu autor não apenas está em crise, como tem coragem de torná-la pública.

O aspecto dialogal destacado pelo Júlio é um dos itens interessantes do livro. Por exemplo, Jó, em crise, se impacienta com os amigos. Ele quer logo falar com Deus. O pregador parece mais disposto ao diálogo.

Outro dado que me parece trazer a antipatia prática da igreja para com o livro é sua perspectiva. Ele não traz afirmações ortodoxas a respeito de Deus, da salvação, da eternidade. Ele fala desses temas, mas de outro ângulo, o da sabedoria. Nela, as afirmações surgem a partir das experiências e da reflexão. O sábio vê, observa, reflete, e então tira conclusões. Portanto, a porta de entrada para sua fala não é a revelação, pelo menos não a revelação direta, como aquela trazida aos profetas, mas o mundo que cerca o sábio. Então temos um processo que, ao invés de vir de cima para baixo, vai de baixo para cima.

Quanto a isso, a sabedoria adota duas perspectivas. A primeira, a da ordem. As conclusões de um sábio levam-no a afirmar que Deus existe e, principalmente, atua na natureza, nas relações humanas, etc. Em um mundo ordeiro, pela observação pode-se chegar ao conhecimento de Deus. Mas a outra perspectiva é a da desordem. Nela o sábio vê, contempla, reflete, mas ele não consegue identificar processos divinos no mundo. Pelo contrário, ele identifica a desordem, o caos, a corrupção, a depravação, etc. Os textos bíblicos de sabedoria, principalmente Jó e Eclesiastes, se enquadram nesse grupo.

Então, e aí está a dificuldade, quando sábio fala de sua crise, ele fala a partir de sua vivência e como uma denúncia sofredora dentro de um mundo caótico. Temos, então, uma hermenêutica invertida. Suas afirmações indicam o que ele experimenta e, ao mesmo tempo, indicam o que não deveria acontecer.

Bem, posto isso, quero fazer uma provocação. Júlio propôs que em Ec 7 temos o diálogo entre dois sábios, o pregador e o sábio oriental ou o filósofo grego.

Pelas descrições, e pela possível identificação do autor com Salomão, pode-se pensar em um sábio elitista. Mas, e aí vai a provocação, e se a sabedoria que ele utiliza não for a do palácio e sim a da rua? E se, juntamente com sua experiência que o leva à crise, ele apresente uma crítica à sabedoria e à vivência dos poderosos, dos ricos, numa perspectiva sócio-religiosa?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cânon dentro do Cânon

Enquanto o Paulo e o Leonel preparam seus monstrengos, e enquanto nossos comentaristas aquecem os seus tamborins, conversarei com o cânon do Leonel.

Primeiro, concordo com a descrição feita por Leonel. Sim, toda teologia escolhe um cânon peculiar, dentro do cânon maior, e esse mini-cânon é que de fato funciona canonicamente. O exemplo citado, da Confissão de Fé de Westminster, é bem posto. Nas Igrejas Presbiterianas no Brasil (pelo menos na IPB e na IPIB), a Confissão de Westminster é legalmente afirmada como A confissão presbiteriana, e os pastores devem subscrevê-la e defendê-la - os membros da igreja só precisam subscrevê-la. Provavelmente por isso é que a Bíblia foi embora do Presbiterianismo brasileiro ... Poderíamos, porém, multiplicar os exemplos semelhantes.

Segundo, uma palavra sobre o cânon bíblico. Tenho lido muito sobre essa questão, que voltou com tudo na pesquisa bíblica. Há muita coisa interessante e útil e tenho aprendido bastante. Entretanto, minha posição sobre o cânon tem se encaminhado para um lugar relativamente periférico no tocante ao conjunto da pesquisa bíblica e teológica.

Eis minha hipótese: o cânon bíblico não é fechado. É um cânon aberto, plural e inclusivo. Explicando: não uso o termo "fechado" no sentido tradicional de que não se pode mais incluir livros no cânon. Uso o termo no sentido de que não há, na Bíblia, um único modo de ver e falar de Deus que seja fechado a outros modos. Em outras palavras, uma constatação óbvia e não muito recente: na Bíblia há muitas teologias, diversas tradições. O não tão novo: isso é fruto do processo de canonização: é para ser assim mesmo. Por mais que tal pluralidade relativize a própria noção de cânon, o cânon bíblico não é fechado. Veja o caso do AT: há teologias antagônicas nele. Profetas como os do VIII século (Isaías e Miquéias no Sul, Amós e Oséias no Norte) não concordam conceitualmente entre si; contradizem as teologias oficiais das suas respectivas cortes e templos; descrevem o agir de Deus a partir de tradições distintas (reinado de Deus no Sul, êxodo no Norte), e oferecem distintas avaliações da monarquia. Poderia multiplicar os exemplos à exaustão.

Assim, em certo sentido, toda teologia tem de ter mesmo um cânon dentro do cânon - desde que a teologia permaneça aberta, plural e inclusiva. Desde que permaneça dialogal e dialogante. Desde que permaneça fraca e aprendente. Desde que aceite que tem, sempre teve, e sempre terá, "prazo de validade". Em especial, que a teologia aceite que o seu "prazo de validade" é de curta duração.

Este é meu cânon a partir do cânon e dentro do cânon.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Um bate-papo no boteco da esquina

Inicio semioticamente: a perícope recortada - de forma algo arbirária, de fato - é construída sob a sombra da subjetividade. Ela estabelece um jogo entre formas imperativas dirigidas a um "tu" e formas testemunhais na boca de um "eu". É, assim, um texto dialogal, dialogante, que convida leitores à conversa. Esse diálogo só é interrompido nos versos finais (18-20), e mesmo nesses versos, a interrupção é parcial, pois são uma reflexão do "eu" sobre um dos imperativos dirigidos ao "tu". Uma das interpretações possíveis dessas personagens é a seguinte: o "eu" é o Qohelet, enquanto o "tu" é o sábio-oriental-padrão bem como o filósofo-grego-padrão. Que semelhanças há entre esses dois "tu"? Ambos são obcecados com a ordem. Um a chama de Justiça, o outro a chama de Logos. Ambos acreditam que se estudarmos bastante, se refletirmos incansavelmente, se dedicarmos nossa vida integralmente ao trabalho da ciência, chegaremos ao pleno conhecimento da realidade e poderemos domá-la, controlá-la, regê-la. Uma segunda semelhança é que ambos são obcecados com a ética. O primeiro "tu" leva uma certa vantagem, pois para ele a ética pertence ao mundo da justiça, assim como a sabedoria. Logo, ética e sabedoria se complementam (note o paralelismo no v. 16). O segundo "tu" possui um probleminha para resolver: como encaixar a ética no palco do Logos? Probleminha, pois, afinal de contas, é possível, com muita reflexão, situar a ética - Aristóteles ofereceu uma engenhosa resposta: a virtude está no equilíbrio . No equilíbrio entre as paixões tormentosas e as virtudes maravilhosas, de modo que a pessoa que escolhe "filosoficamente" fazer o bem, alcança-lo-á. Mutatis mutandis, toda a ética ocidental acredita que "chegaremos lá" (as exceções confirmam a regra...).

Descrito o "tu", o mistério do "eu" se ameniza. Afinal de contas, quem é Qohelet? Um rei? Um cético? Um sábio? Um louco qualquer? Amenizado mas não desfeito. Qohelet é apenas um colecionador, um "eu" que coleciona diálogos, conversas, impressões, sabedorias. Colecionando-as, coloca-as em exposição. Expostas, cabe aos admiradores dar-lhes sentido, se é que elas podem fazer sentido. Como pode haver sentido se Elohim fez tudo torto? A RAB tenta salvar Elohim ao traduzir o singular hebraico "obra" pelo plural "obras" - Elohim só teria feito algumas coisas tortas... Qohelet não tem pruridos dogmáticos. Elohim faz e ninguém desfaz. Ele fez sua obra torta, ninguém poderá endireitá-la. Não há ordem a ser descoberta. Não há padrões reveladores dos mistérios ocultos na superfície caótica da vida cósmica. Não os havendo, "viva a vida", "carpe diem" - justa e sabiamente, sim; mas como não há justo ...

Qohelet é um "eu" filosoficamente incorreto. No último verso do capítulo 7 ele se contradiz: "Elohim fez o adam reto, e eles (a "desconcordância" numérica está no texto hebraico) correm atrás de invenções e esquemas". Tudo que é torto funciona direito. Uma coisa só é reta, e funciona torta. Entrando na seara "recepcionista" do Paulo, o melhor comentário de Eclesiastes que conheço é obra de uma mulher, londrina, de 19 anos, Mary Shelley. Adivinhou? Claro! Frankenstein: ecce homo!

Mais poderia ser dito, mas os colegas merecem o direito de postar suas próprias monstruosidades.

Eclesiastes e o cânon... Aquele que a igreja usa

Enquanto espero novas postagens do Júlio, aproveito para comentar algo que é do conhecimento daqueles que lêem a Bíblia e mantêm os olhos na vida das igrejas.

Em teologia se discute a questão do cânon dentro do cânon. Se por um lado há afirmações ortodoxas a respeito da constituição e configuração do cânon cristão, por outro a prática das igrejas permite depurações.

Por exemplo, a muito tempo já foi notado o fato de que os Gideões Internacionais, ao publicarem seu Novo Testamento e incluírem nele os livros de Salmos e Provérbios, estariam trabalhando a partir de uma perspectiva prática do cânon. Do A.T. valeria a pena incluir apenas dois livros.

Em círculos teológicos é evidente que o cristianismo se estabeleceu, no Ocidente, a partir da teologia paulina. Por isso mesmo alguns propõem que o que temos hoje não é cristianismo, mas sim "paulinismo". E a influência de Paulo não para por aí. Basta ler um pouco sobre a história da interpretação para ver como seus escritos, principalmente Romanos, desempenharam papel central na vida de grandes homens como Agostinho, Lutero, Calvino, Barth.

Do mesmo modo, na Teologia Sistemática praticada na parte ocidental do mundo temos uma teologia mais paulina do que necessariamente bíblica.

Por curiosidade pesquisei na Confissão de Fé de Westminster, aquela que é a base doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil e de outras presbiterianas ao redor do mundo, a presença de textos de Eclesiastes. Fiquei surpreso ao ver que há 7 citações do livro (esperava que o livro não fosse utilizado). A maioria de 12.7 (3 vezes): "antes que a poeira retorne à terra para se tornar o que era; e antes que o sopro de vida retorne a Deus que o deu", usado para confirmar que a matéria que constitui nosso corpo volta à terra, mas nossa alma, imortal, retorna ao Criador. As demais citações são: 5.4-6 (2 vezes), 12.14, e 7.29.

Bem, passou perto. O capítulo 7 é citado, mas não a perícope proposta pelo Júlio. Se Eclesiastes está timidamente representado na Confissão de Fé, Romanos, por exemplo, possui mais de cem citações.

Bem, temos uma evidência prática que os teólogos trabalham com um cânon dentro do cânon. Quais os malefícios dessa prática? O que se perde ao excluir Eclesiastes de nosso cânon prático? Espero que discutamos, pelo menos um pouco, essas questões.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Nova semana, novo texto: Eclesiastes 7,13-20

A. Eis a tradução/transcriação de Haroldo de Campos, que dá um pouco do sabor poético do original. Os trechos em negrito são meus, cometi a ousadia pecaminosa de interferir na obra, mesmo colocando a intervenção entre parênteses:

13. Vê a obra de Elohim
Pois quem poderá endireitar
O que ele entortou?
14. Em dia benéfico vive a benesse
E em dia adverso adverte (reflete)
Tanto este como aquele Elohim os fez
Para um fim
Que o homem não devasse no após-ele nada (não possa prever o futuro).
15. Vi de tudo nos meus dias-névoa-nada
Eis um justo, vida breve com sua justiça
E eis um iníquo
Vida longa apesar de iníqua
16. Não sejas justo em excesso e não te excedas em sabedoria
Por que provocares tua ruína? (desejas ser confundido?)
17. Não sejas iníquo em excesso e não sejas néscio
Por que morrer fora da tua hora?
18. Bom apegar-se a isto e também àquilo
De ambos não despregues tua mão
Pois quem teme a Elohim sai bem de tudo
19. A sabedoria dará força ao sábio
Mais que dez potentados
Que governem a cidade
20. Pois homem justo não há sobre a terra
Que faça o bem e não peque jamais.

B. A maioria dos comentaristas coloca o início da perícope no verso 15 e há grande discussão quanto ao término da mesma. Mas a maioria dos comentaristas também enxerga os v. 13-14 como elemento "conclusivo" de 7,1-12. Prefiro olhar para 7,13-14 (como é comum em vários livros da Bíblia) como um texto de transição: serve tanto de conclusão para o anterior como de introdução ao novo trecho. Não tenho nenhuma razão especial para encerrar a perícope no v. 20, a não ser que me parece que o v. 21 inicia um novo tema. Não sei porque a Bíblia de Jerusalém dividiu o verso 11 em dois na sua tradução - se você usa a BJ, a perícope começará no v. 14. Pelo menos um comentarista recorta o verso 19 e o coloca antes do verso 13 - esse comentarista entendeu melhor o texto do que os escribas judeus, é claro!

C. Uma das discussões interessantes sobre o livro de Eclesiastes é a relativa ao seu mundo interdiscursivo. Alguns colocam o livro no mundo da sabedoria véteo-oriental. Outros o colocam no mundo do helenismo recém chegado a Israel. Outros, ainda, o colocam nos dois mundos. Que eu penso? Eclesiastes é livro de sabedoria/filosofia. Transita entre mundos distintos. Aliás, quem inventou essa distinção entre sabedoria (coisa de oriental pré-racional) e filosofia (coisa de ocidental racional) se encaixa na categoria do "néscio" de Eclesiastes.

D. Fico por aqui. Amanhã começo a palpitar. Deixo vocês com o texto. Divirtam-se!

domingo, 16 de maio de 2010

Exorcizando a exegese da Linda e Grande Mulher

Ulrich Luz escreveu um comentário "épico e aclamado" (segundo a Amazon!) do Evangelho de Mateus (Das Evangelium nach Matthäus, em quatro volumes, o primeiro publicado em 1985 e o último em 2002 pela Zürich/Neukirchener Verlag na prestigiosa série EKK: Evangelisch-Katolischer Kommentar). Ele começa sua análise da perícope com a descrição das duas tendências interpretativas na história da exegese: a histórico-salvífica e a parenética. Ao final da análise, declara que ambas as tendências distorceram o significado original do texto (apesar de o terem entendido parcialmente). Para ele, o sentido original do texto é a afirmação da "fé" da mulher siro-fenícia: "A fé consiste na total desistência de tudo, menos da confiança em Jesus. [...] A confiança incondicional no Senhor Filho de Davi inclui a experiência concreta da cura". Esse sentido original é reinterpretado pela comunidade mateana que oferece, então, dois sentidos ao texto: o primeiro é fiel ao sentido da palavra de Jesus: é preciso fé para enfrentar, com oração, as situações adversas. O segundo é missionário: a comunidade mateana se vê legitimada em pregar o evangelho aos gentios (isto supõe que a tradição entendera que Jesus só pregou e só agiu em benefício de Israel). Todas as conclusões, é claro, fundamentadas em ampla argumentação filológica, literária, histórica e teológica (não precisamos deixar de reconhecer os valores da pesquisa histórico-crítica!)

Bem. Argumentação à parte, ao terminar de ler o comentário de Luz à perícope só consegui concluir o seguinte: é preciso curar a exegese! E não é que chegou, uns dias depois, o post do Paulo, dando um exemplo de como exorcizar a interpretação? É preciso encharcar a pesquisa exegética de bom humor. Só boas gargalhads expulsam os soturnos demônios que atormentam a humanidade. Luz escreve doze páginas sobre o episódio da linda e grande mulher (imagino quantos meses de pesquisa...) e, enfim, conclui: o texto valoriza a fé em Jesus - quem tem fé recebe bênção. Ora, qualquer leitor leigo, especialmente se for pentecostal, sabe disso.

Haja exorcismo! Um demônio mal expulso volta e traz mais sete ... A exegese fez a mulher desaparecer sob o manto sagrado da fé. Nada de sabedoria, nada de persistência, nada da coragem da mulher em enfrentar Jesus e vencê-lo no debate. Quer saber, acho que descobri porque Jesus foi para a região de Tiro e Sidon (um grande debate exegético histórico crítico e gramatical) - ele errou o caminho. Inda bem que ele errou, senão jamais conheceríamos a mulher que venceu Jesus.