quarta-feira, 25 de maio de 2011

A recepção de Gálatas e a nova perspectiva

O post do Júlio apresentou uma questão que tem sido foco de muitas disputas nos EUA e Europa e que no Brasil tem sido introduzida de forma ainda tímida.

Não pretendo nesta mensagem entrar na discussão, mas salientar um aspecto que pode ilustrar o que ocorre com a Nova Perspectiva sobre Paulo.

Falo da recepção de textos literários, sejam eles bíblicos ou não. Dentro de um quadro composto por autor - obra - leitores há uma dinâmica histórica que não se interrompe e que é cercada por forças nem sempre claras.

Autores escrevem textos e editores editoram livros visando divulgá-los e vendê-los o mais que possível. Do outro lado, leitores sentem-se atraídos por obras, que, ao lerem, atribuem sentido a partir de suas vivências de mundo.

A questão é que nem sempre as ênfases dos autores são mantidas por editores, que podem, mediante ações editoriais externas como prefácios, orelhas, apresentações etc, deslocar sentidos originais com o objetivo, segundo eles, de maior vendagem. Do mesmo modo, o leitor nem sempre aceita ser guiado por direções impostas pelos autores e editores, chegando a compreensões e sentidos estranhos aos dois primeiros.

Essas relações são trabalhadas principalmente por historiadores da cultura que desenvolvem pesquisas ligadas à história da leitura e da recepção de livros.

Tais questões são relevantes para pensarmos a nova intepretação a respeito das posições paulinas, e de Gálatas especificamente. Mas, é bom dizer, o aspecto "novo" de tal leitura não deve gerar estranhamento nem susto. Afinal, todo ato de leitura é, de uma forma ou de outra, uma produção de sentido, novo, a partir de novos leitores em outros tempos que não aqueles da produção da obra.

Isso significa que a Nova Perspectiva sobre Paulo é tão nova quanto foi a leitura de Paulo, via justificação pela fé, feita por Lutero e por outros reformadores. A questão é que esta última interpretação, por distanciamento histórico e por motivos ideológicos/teológicos, é assumida como "a leitura" correta.

Como conclusão do que disse acima, toda leitura traz uma nova abordagem a partir dos vários elementos que a envolvem, a grande maioria deles ligados às vivências dos leitores. Isso não significa que não se possa discutir se uma leitura está correta ou equivocada. Mas deve-se agregar à discussão os aspectos citados acima.

Esse não é exatamente o aspecto dinâmico das leituras feitas no protestantismo multiforme brasileiro?

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