terça-feira, 19 de abril de 2011

A bondade como centro da vida

Caminhando para o final das análises do pequeno livro de Rute, julgo que é conveniente gastar algumas palavras sobre um elemento central em seu enredo: as ações bondosas dos personagens no contexto familiar.

Não que o estímulo para fazer o bem se retrinja aos do nosso próprio sangue, mas é com eles que tal compromisso possui maior concretude de realização e, em geral, é colocado em segundo plano ou mesmo esquecido.

Primeiramente é importante destacar que a bondade assume maior relevância em situações de necessidade. Nem sempre, mas principalmente. É o que se vê no capítulo inicial do livro. A ação bondosa de Rute ocorre quando da morte do esposo e dos filhos de Noemi, momento em que está sozinha e desamparada.

Rute continua amparando e cuidando de Noemi no capítulo dois. Quando as duas mulheres chegam em Belém, ela sai para os campos em busca de alimento. Vai de um campo a outro, até chegar nas terras de Boaz. Ali passa o dia trabalhando incansavelmente.

No capítulo três Rute segue orientações de Noemi e vai até Boaz para estimulá-lo a assumir seu papel de resgatador. Para tanto, ela se submete detalhadamente às indicações da sogra a respeito de como proceder. Não há, da parte dela, nenhuma revolta ou desprezado para com a anciã.

Noemi, por sua vez, amparada e sob os cuidados de Rute, preocupa-se com o destino dela e, desse modo, age bondosamente. Tal postura pode ser vista já no primeiro capítulo. Mesmo sozinha, insta com as noras para que retornem para seu povo e suas famílias. Orfa, compreendendo a situação e que era, de fato, o mais sensato a ser feito, aceita o conselho e retorna para o lar paterno. Isso demonstra que Noemi não estava blefando.

Nos capítulos dois e três Noemi assume o papel de conselheira de Rute. Após esta voltar dos campos e do encontro com Boaz, é a sogra que esclarece quem é aquele homem a orienta a manter contato com ele. O capítulo três inicia com a preocupação de Noemi sobre o futuro de Rute. Não deseja que tenha seu destino: ficar abandonada e só. Assume o compromisso de buscar um lar para ela. É nesse contexto que arquiteta o plano para que Rute se achegue a Boaz.

Boaz, por sua vez, é descrito como o homem bom por excelência. Não apenas permite que Rute recolha espigas em suas terras, o que seria normal, mas também lhe dá gratuitamente espigas, por duas vezes, para que se alimente assim com a sogra. Ele cuida para que ela não seja molestada por nenhum de seus funcionários e assume o compromisso de resgatar as mulheres, caso o parente mais próximo desista.

Bem, todo ato de bondade tem um preço a ser pago. Nesta história não é diferente. Rute deixa os seus, sua terra e a opção de buscar casamento com alguém de sua idade para casar-se com Boaz, homem muito mais velho. Noemi não se permite afundar em depressão e negativismos. Continua firme e coloca Rute em primeiro plano. Boaz, homem de posses e compromissos, não se esquece de seu dever perante a lei e assume os compromissos, inclusive financeiros, do resgate.

Concluindo, é muito bela a forma como o narrador constrói as linhas de relacionamento entre os personagens principais de sua história. A bondade está presente em todos os momentos, nos ensinando que a família é o bem maior que temos e a quem devemos compromissos de cuidado e zelo, mesmo quando, e isso sempre acontece, isso nos seja difícil.

Como a história de bondades múltiplas termina? É o que veremos no capítulo 4.